sábado, 10 de dezembro de 2011

Vegetarianismo é saudável - Seja vegetariano


Especialistas garantem que tirar produtos de origem animal das refeições não oferece danos se houver reposição de nutrientes

O grupo dos adeptos do vegetarianismo vem crescendo nos últimos anos a ponto de virar tema de estudo de especialistas. Em uma das mais recentes obras sobre o assunto, "Vegetarianismo e Ciência" (Editora Alaúde, 252 páginas, R$ 39), o cardiologista e nutrólogo Julio César Acosta Navarro, com 20 anos de sua carreira dedicados a descobrir os efeitos da dieta livre de produtos de origem animal no organismo, garante que abolir a carne das refeições não oferece qualquer prejuízo à saúde. Para Navarro, o ser humano não nasceu para ser carnívoro.

— Essa história de que na dieta sem carne há deficiência de proteína, vitaminas e sais minerais é mítica. Todos os alimentos vegetais têm esses nutrientes, mesmo que em níveis menores. Há muitas formas de compor uma dieta equilibrada. Até mesmo grandes atletas adotam o vegetarianismo — diz o médico chileno naturalizado brasileiro, que atua no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo. 

Não ingerir proteína acarreta a perda de massa muscular, fraqueza, déficit de crescimento, alterações metabólicas, cerebrais, de aprendizagem, musculares, cardiovasculares e imunológicas. Isto ocorre quando há falta de alimentos. A dieta vegetariana, segundo o médico, permite que se busque alternativas, como o próprio nome diz, nos vegetais. 

O autor da obra faz apenas uma ressalva: mesmo o prato mais balanceado do vegetarianismo será carente de um tipo de vitamina. A B12 é a única que não é encontrada em quantidades suficientes em nenhum outro alimento que não tenha origem animal. Ela é essencial para o bom funcionamento do sistema nervoso central. Em falta, pode causar depressão, por exemplo. 

Os sinais mais claros do déficit desse nutriente é memória prejudicada e fraqueza. Por isso, aos adeptos do vegetarianismo é indicada uma suplementação alimentar, que pode ser em cápsulas ou injetável. Os especialistas consideram a discussão sobre as perdas de substâncias essenciais para o corpo com a dieta vegetariana ultrapassada. Há agora uma busca pela educação da população, já que, quando se decide adotar hábitos diferentes de alimentação, deve-se ter acompanhamento médico e nutricional. 

O segredo do sucesso já é batido, mas não custa reforçar: equilíbrio. Para a endocrinologista Patrícia Santafé, a dieta em si é saudável. O problema, conforme a médica, é que a maior parte das pessoas elimina a carne e seus derivados por conta própria, sem se preocupar com a reposição de nutrientes essenciais. 

— Quando corta todos os produtos de origem animal e não compensa com outros alimentos, a pessoa pode apresentar deficiência de nutrientes e baixo nível de gordura e colesterol. Isso pode comprometer a produção hormonal, acarretando menor absorção de cálcio e alterações no ciclo menstrual. Pode ocorrer carência de ferro, o que causa anemia — 

Conheça os tipos de vegetarianos 

Ovolactovegetariano: alimenta-se de ovo e de derivados do leite;

Lactovegetariano: come derivados de leite;

Vegetariano total ou vegano: não come produto de origem animal

Rica em fibra, pobre em gordura 

De um modo geral, a nutrição vegetariana atende com maior facilidade aos requisitos de uma dieta saudável. Rica em fibra e pobre em gordura saturada, com ela é possível o equilíbrio entre proteínas, carboidratos e lipídeos, que preenchem necessidades diárias de minerais e vitaminas, diz a nutricionista clínica Sálua Finamor.

— Quando planejada adequadamente, a dieta vegetariana é saudável e resulta em benefícios à saúde, tanto na prevenção quanto no auxílio do tratamento de certas doenças — explica Sálua.

As razões que levam alguém a aderir ao vegetarianismo não se restringem à busca de uma vida mais saudável. Muitos deixam de comer carne por questões ambientais e por serem contrários ao sacrifício de animais.

Em seu livro "Vegetarianismo e Ciência", o médico Julio César Navarro cita um relatório da FAO, a unidade das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, que aponta que a produção de 250 gramas de hambúrguer libera tanto gás estufa para a atmosfera quanto um carro durante uma viagem de 15 quilômetros.

Seja por ideologia ou por causa da saúde, não há idade para se iniciar uma dieta desse tipo, de acordo com os especialistas. Mesmo grávidas e crianças, conforme a obra de Navarro, podem adotar o vegetarianimo. A ADA (American Dietetic Association), órgão de saúde americano, afirma que as dietas lacto-ovo-vegetarianas, quando adequadamente planejadas, podem satisfazer as necessidades nutricionais de bebês, adolescentes e adultos, promovendo um crescimento normal.

— Apesar das comprovações científicas, acho importante não condicionar uma criança à alimentação vegetariana. Pode-se oferecer a opção de comer ou não carne, sempre cuidando obviamente para que se esteja ofertando uma dieta saudável, com todos os nutrientes, para a idade. Devemos deixar que no futuro a pessoa decida o que é melhor para si, para os animais e para o ambiente em que vive — salienta Sálua.

O churrasco dos veganos 

Os hábitos alimentares da antropóloga Maria de Nazareth Agra Hassen, 50 anos, e do marido, o editor de livros João Carneiro, 46, mudaram da água para o vinho há cinco anos. Ou melhor, da carne para o brócolis. A família e os amigos acharam que sairiam perdendo, já que João era o churrasqueiro oficial dos domingos. Para a alegria de todos, a churrascada do fim de semana foi mantida. Só que agora, nos espetos da residência do casal, entram apenas carne de soja, legumes, frutas e verduras.

De início foi estranho, confessa Nazareth, mas depois tudo virou diversão. Hoje, Nazareth se sente bem melhor, e sua saúde nunca esteve tão boa. Exames periódicos mostram que ela está bem nutrida. Como é vegana, não se aventura em nada que tenha origem animal, mas faz reposição de vitamina B12 a cada seis meses.

— Pensamos em tudo para montar um prato saboroso e saudável — conta a antropóloga, que decidiu ser vegana por compaixão aos animais.

Para Maria de Nazareth e João, seus pratos ficaram mais bonitos. A não ser a extinção dos cortes bovinos, nada mudou na confraria da churrasqueira.

— O churrasco vegetariano me ajuda a evitar a famosa barriguinha. De resto é tudo igual. Tomamos cerveja, espetamos a carne de soja como se fosse uma peça de matambre, com tempero de véspera. Tem o pão com alho e também a salada de maionese, feita com batata, isoflavona (substância derivada da soja que substitui o ovo), aipo e cenoura — destacou João.

Conheça os benefícios 

A dieta vegetariana pode ser usada na prevenção de doenças e como auxílio em tratamentos, conforme a ADA (American Dietetic Association):

- Doenças do sistema digestivo: em geral, pessoas vegetarianas sofrem menos de síndrome do cólon irritável, apendicite aguda, hemorróidas e úlceras;

- Obesidade: a taxa de obesidade é menor em vegetarianos. Previne-se cardiopatias e problemas de colesterol e triglicerídeos;

- Diabetes tipo 2: melhora o controle da glicose e favorece a manutenção de níveis desejáveis de lipídeos;

- Infarto: redução do número de mortes em 31% em homens vegetarianos e de 20% em mulheres que seguem a dieta;

- Colesterol: os níveis são 14% mais baixos em vegetarianos;

- Osteoporose: mulheres após a menopausa com dieta rica em proteína animal e pobre em proteína vegetal têm taxa mais alta de perda óssea e risco maior de ter fratura de quadril;

- Envelhecimento: repercute no bom funcionamento dos órgãos e em uma aparência física mais saudável;

Os quatro pecados 

- Falta de orientação: é necessário buscar o auxílio de especialistas, que vão personalizar seus pratos e lanches;

- Monotonia: é preciso variar a alimentação, criar pratos novos e incrementar com legumes, frutas e verduras diferentes;

- Tendência a refinados: a carne vermelha provoca uma sensação de saciedade. Por isso, a primeira atitude de alguém que a retira da alimentação é correr para carboidratos e frituras. Para ser saudável, deve-se substituí-los por produtos integrais, do arroz ao pão;

- Deixar de repor nutrientes: uma avaliação periódica de minerais, proteínas e vitamina B12 é necessária. Suplementos alimentares podem auxiliar.

Faça um cardápio saudável 

- Reponha a perda de ferro decorrente da retirada da carne da alimentação: coma feijão preto, lentilha, ervilha, soja, tofu, grão-de-bico, cereais integrais, gema de ovos, vegetais folhosos verdes (couve, espinafre, brócolis, folhas de beterraba), castanhas (caju), sementes (de abóbora, gergelim) e frutas secas (damasco, ameixa e passas de uva).

- Alimentos que aumentam a absorção de ferro: sucos ou frutas ricos em vitamina C, como laranja e acerola.

- Alimentos com cobre, como leguminosas (feijão, ervilha, lentilha, grão-de-bico), gema, brócolis, milho, beterraba, alho, rabanete, figo, ameixa, laranja, cogumelo, castanha-do-pará, amêndoas, nozes, melado, farinha de soja, trigo integral, aveia, cevada e centeio.

- Alimentos com ácido fólico, nozes, feijão, vegetais de folhas verde escuras, brócolis, beterraba, alface, grão-de-bico, laranja, couve-flor, banana, lentilha, cenoura e melão.

- Alimentos que diminuem a absorção de ferro (não devem ser consumidos 30 minutos antes nem uma hora depois das refeições): Chá mate, preto, chimarrão, chocolate, café, refrigerantes, espinafre e beterraba crus.
Kamila Almeida  |  kamila.almeida@an.com.br

Fonte - ZERO HORA

Link de Origem

Nenhum comentário:

Postar um comentário