Sexta-feira, 20 de Julho de 2012 23:21


Queridos Amigos,
 
Esta é na verdade uma carta desabafo. Não sei quanto de vocês, meus amigos, gostam de animais porque
com alguns nunca comentei sobre o assunto. A maioria sabe que gosto (demais) e da minha luta de tentar
recuperar a saúde dos meus. Muitos de vocês, sei que também gostam de animais. Alguns nem tanto, mas
sei que respeitam.
 
No dia 16/06/12, fiz uma Noite de Caldinhos em parceria com minha amiga Lia, que é protetora de animais.
Eu, para levantar uns fundos para bancar os tratamentos dos meus e a Lia para sustentar os abandonados
que ela e mais 3 amigas cuidam. Como ambas estávamos precisando, propus a ela essa parceria.
 
Isso também muitos de vocês sabem pois compareceram, prestigiaram e apoiaram. E, a vocês sou muito grata
pois sem os amigos a gente não conseguiria fazer um evento assim. A Lia ficou me agradecendo, mas eu disse
para parar com isso porque a ajuda foi mútua e com a cooperação dos amigos dela, dos meus e dos amigos dos amigos.
 
A Lia é uma pessoa séria e com suas companheiras fazem das tripas coração para cuidar dos cães abandonados
que resgataram. Trabalham de domingo a domingo. Faça chuva ou faça sol, elas vão todos os dias à chácara que
alugaram para cuidar: tirar cocô, alimentar, proteger do frio, dar banho, dar carinho. Nos finais de semana levam para
feiras de adoção.
 
Marilu Godoi é outra protetora de animais (soube que há mais de 20 anos). Conheci-a antes de conhecer Lia. Tenho
muito respeito e admiração por essa pessoa. Ela me ajudou a encontrar um cão que a carrochinha tinha levado, quando
ainda eles eram sacrificados no CCZ. Ele fugiu, na hora que iam tirá-lo da carrochinha. Fui procurar e andei até minhas 
pernas não aguentarem mais. Não encontrei. Ele era da rua, mas eu e o Sr Julio o estávamos alimentando e eu pretendia
levá-lo para adoção, com ajuda de um protetor.  Não dormi direito uma semana, me preocupando que fim levara. Não me
conformei e mesmo com pouca possibilidade de encontrá-lo fui procurá-lo, 7 dias depois. Segui a orientação da Marilu,
colando cartazes em pontos de ônibus, postes e orelhões, próximo ao CCZ. E... encontrei!!! Confesso que chorei. A mulher
que me deu informações até riu: "Você tá chorando". Sr. Julio foi nos buscar de carro e disse que eu podia deixá-lo em
sua casa até que eu encontrasse um dono pra ele. Uns dois dias depois ele propos que o adotássemos juntos "eu cuido,
vc cuida", ele disse. Fiquei super feliz. Demos-lhe o nome de Max e hoje ele vive lá feliz, perdeu todo o trauma que tinha.
Devo isso a Marilu, que me orientou. Nem me lembro se já a conhecia pessoalmente nessa época ou só por telefone. 
 
Eu a admiro não porque ela diz que está fazendo isso e aquilo, mas porque a vejo fazendo. Como tenho ido muito
às clínicas veterinárias por conta das enfermidades dos meus, coincide muitas vezes de encontrá-la. Sempre ajudando
os bichinhos.
 
Sei que resgata cães feridos atirados de viadutos, esfaqueados, recentemente resgatou uma cachorra que estava toda
machucada sofrendo estupro de um monstro (nem sei que nome dar a um ser desses, só não posso chamar de ser humano). 
 
Então, meus amigos, a gente sabe que em todas as áreas há picaretas e que também há pseudos protetores que usam os
animais para autopromoção ou levar alguma vantagem. Assim como existem picaretas que usam crianças, idosos e enfermos.
 
Mas esses voluntários sérios merecem nosso respeito e confiança. A luta deles é contra a correnteza, porque há muitos animais
abandonados. A frustração dos verdadeiros protetores é não poder ajudar todos. Principalmente porque não há uma ajuda pública.
Elas, além de arregassarem as mangas literalmente, tem de pensar em coisas  para levantar fundos. Muitas vezes tirar do próprio
bolso. Há pouco tempo, Lia estava muito preocupada que a ração estava acabando. Mandei-lhe um saco. Depois ela me
telefonou quase chorando para agradecer. Realmente fiquei encabulada, porque isso foi quase nada perto do muito que elas fazem
todos os dias.
 
Sei que Marilu, Lia e outras protetoras se ajudam. Entre elas não há concorrência, mas parcerias. Marilu também nos ajudou no
evento da Noite do Caldinho. E me prestigiou também com sua presença, no bingo que fiz em Novembro/11.
 
Vamos à explicação de porque estou escrevendo tudo isso.
 
Há uns 3 dias, uma amiga (amiga recente), me ligou que havia um cãozinho abandonado em frente ao seu prédio e perguntou
se Lia poderia abrigar. Dei-lhe o telefone da Lia para que pudesse perguntar diretamente. Lia respondeu-lhe que no momento
não podia ajudar pois o abrigo está lotado e a orientou para ir cuidando, divulgar no Facebook, para tentar encontrar um hospedeiro
e mais tarde se houvesse condições ela o abrigaria.
 
Ela (Luzia, o nome dela) me ligou novamente: "Decepcionei-me com a Lia. Ela foi muito fria, que duvido que goste de cães. Você tem
certeza que esse abrigo existe? Como você tem certeza se nunca foi lá?" Disse-lhe que confio na Lia, que ela poderia ver as fotos
do abrigo no Facebook. "Facebook, não gosto! Podem se fotos falsas. Não sei não se vou se vcs fizerem outro caldinho" e desligou.
 
Fiquei hiper chateada, porque sei que nenhum protetor ou ONG consegue ajudar, abrigar todos quanto gostariam. Mas não adianta
explicar a quem não quer entender.  Resolvi esquecer o assunto.
 
Aí, cruzei com ela ontem, na Avenida, a caminho do banco. Não pretendia tocar no assunto, ia apenas cumprimentá-la (e na verdade
esperando um pedido de desculpas pela injustiça à Lia). E o que ela fez? Chegou metralhando: "A Lia enche a boca pra dizer que tem
ONG..." Novamente, então, tentei dizer a ela todo o trabalho que Lia e suas 3 amigas fazem todos os dias. Mas ela foi debochando e
cheia de palpites: "Vcs estão fazendo tudo errado. Precisam é fazer uma campanha para as pessoas saberem cuidar direito e não
abandonarem". Eu disse que isso as pessoas sabem, mas abandonam. E voltei para ela: "se protetores de animais forem fazer essa
campanha, você vai ajudar?" Ficou cheia de "vcs tem de fazer isso, vcs tem de fazer aquilo". Talvez ela nem saiba que quando os animais vão
para adoção, os novos donos assinam termos de responsabilidade e tem um período de acompanhamento.
 
Eu disse: "E quanto a vc? o que vai fazer para ajudar?". Ela (ignorante como jamais imaginei que ela fosse): "Mas o que vc quer que eu faça?
Que vá lá tirar cocô dos cachorros?" Debochou e fez aquele gesto de colocar as mãos fechadas ao lado dos olhos: "Lúcia, você é assim, ó!"
Gente, além de tudo me chamou de tapada!!!! E ainda? "A minha parte, estou fazendo!" Caraca, ela acha que colocar um prato de comida
pro coitadinho e chamar uma ONG para transferir o trabalho é muita coisa???!!!!
 
Antes de criticar e duvidar deveria perguntar se poderia visitar e conhecer o abrigo. Ou também perguntar se não teria mesmo jeito, se ela
bancasse o alimento dele, se levasse a um veterinário para saber se não tinha doença contagiosa.
É fácil criticar, quando a pessoa não faz parte dos trabalhos, não é mesmo?
 
Perdi a paciência e mandei: "Vá lá e fique comodamente no seu apto, enquanto pessoas sérias estão fazendo tudo que podem".
 
Nunca entendi e não aceito palpites de pessoas que tem "grandes idéias" para os outros realizarem. E até já disse para um cara que não
aceitava palpites, só aceito sugestões (ele estava dando uma de sei de tudo e vou te ensinar como fazer).
No meu conceito a diferença é: palpite é aquela coisa enxerida (de gente metida a besta) e sugestão é aquela idéia que as pessoas nos 
dão incluindo-se para ajudar a realizá-la.
 
Fiquei muito aborrecida com o acontecido, mas como um dos meus aprendizados é: tentar ver o lado bom das coisas ruins...
o lado bom: é que valorizo ainda mais os amigos que tenho que jamais agiriam como essa  pessoa.
 
Sobre voluntariado: meu respeito por pessoas que estão por aí ajudando outras pessoas ou animais.
Vou dizer aqui algo que não é da minha autoria, mas uma conhecida disse e disse bem: "Não se formam voluntários, eles estão
por aí".  Significa que independente de se estar em uma entidade, ou grupo, a pessoa é voluntária quando ajuda um vizinho,
ouve um amigo, ou outro tipo de ajuda que possa dar.
 
Tive ajuda de muitos amigos voluntários assim, nos dois eventos que fiz e aproveito esse "Dia do Amigo" para agradecer mais uma vez.
 
Desculpem ter me alongado, mas queria que meus amigos que não conhecem o trabalho dos protetores (como eu não conhecia muito
bem, antes de acompanhar o trabalho da Lia), soubessem que quando eles disserem "Não posso ajudar", não significa "Não quero ajudar",
porque infelizmente o número de animais abandonados é muito grande. E eles (os protetores sérios) fazem o possível e o quase impossível
Merecem respeito e confiança.
 
Abraços,
Lúcia