árvores, doentes e desnutridos
08/12/2011
A proximidade das férias escolares e a
possibilidade de festejar o Natal e o Ano
Novo viajando faz crescer significativamente
o índice de abandono de animais domésticos
no país. Segundo a ONG Arca Brasil, cresce
cerca de 70% o abandono de animais à
medida em que chega o final do ano - em
comparação com os meses anteriores.
O número alarmante faz parte da realidade
de quem cuida durante todo o ano de cães
deixados por seus donos pelas ruas. Os animais,
em geral doentes e desnutridos, são acolhidos
nas casas das chamadas "protetoras", que
muitas vezes passam por dificuldades, mas
dividem o que têm para tornar a vida desses
bichinhos um pouco melhor.
A protetora Telma de Cássia Pereira, 56 anos,
se dedica a cuidar de cães abandonados há 32
anos. Hoje em sua casa no Riacho Grande, em
São Paulo, são mais de 60 animais que foram
abandonados e recolhidos após denúncias de
maus-tratos e casos de atropelamento.
“Muitos foram encontrados amarrados em
árvores, em portões, ou doentes, desnutridos.
É uma situação muito triste”, conta.
Telma, que é auxiliar de enfermagem
aposentada, sobrevive com as doações que
recebe para cuidar dos seus animais. Aos
sábados, é possível encontrá-la em frente a
uma loja de artigos para animais na Avenida
Ricardo Jafet, em São Paulo, pedindo doações
que vão de ração a sabão em pó, para ajudar na
higiene do canil que mantém no quintal.
“Eu não era muito chegada a cachorros até
que um dia uma cadelinha cheia de pulgas
apareceu na empresa em que eu trabalhava e
decidi acolher. Desde então, mudei a minha
vida para tentar tornar a vida desses bichinhos
melhor”, diz.
Além de cuidar dos animais, Telma realiza um
trabalho de castração de animais de rua em
parceria com a Prefeitura de São Bernardo
do Campo e alimenta cães abandonados, perto
de onde mora, que não podem ser acolhidos em
sua casa. “Eu não tenho mais espaço para
receber nenhum cachorro. E infelizmente nesta
época do ano em que o povo quer viajar, muitos
são abandonados. Como não tenho como acolher,
saio distribuindo comida sempre que possível.”
Só entre novembro e dezembro, mais de 50 cães
foram deixados na região onde Telma mora. Em
meses ao longo do ano, esse número não costuma
passar de 20, segundo relata a protetora.
Solicitações sobre abandono
Neste ano, pela primeira vez, a ONG Arca Brasil
Neste ano, pela primeira vez, a ONG Arca Brasil
decidiu quantificar a percepção que já era
evidente em anos anteriores: o aumento de
abandono de cães com a proximidade das festas
de fim de ano. De acordo com levantamento feito
pela entidade, com base em solicitações recebidas
por email e por telefone, o abandono de animais
domésticos cresceu cerca de 70% nos últimos dias
com relação aos demais meses do ano.
“É um número impressionante. E certamente
isso se deve à proximidade das férias e das festas
de fim de ano. É importante frisar que o gesto de
adotar e conviver com o animal tem que ser um
compromisso como o que se assume com um
membro da família. Hoje em dia existem muitos
hotéis, pet shops e até famílias que recebem
animais para cuidar durante viagens de famílias,
então não é necessário abandonar. Além disso,
o abandono é crime”, afirma Marco Ciampi,
fundador e presidente da ARCA Brasil.
A ONG recebe denúncias de todo o Brasil,
mas não atua no recolhimento de animais
abandonados. O trabalho da Arca Brasil é
voltado à orientação e intermediação em
caso de relatos de abandono e maus-tratos.
Sem doações
A protetora Clotilde Angelo de Souza,
A protetora Clotilde Angelo de Souza,
65 anos, também dedica grande parte do seu
tempo ao cuidado de seus mais de 130
cachorros e 60 gatos recolhidos do abandono.
Ao contrário de Telma, no entanto,
Clotilde sustenta os animais com seus próprios
rendimentos.
"A vida de uma protetora é muito dramática.
Se eu dependesse de doações, grande parte dos
meus animais já teria morrido. O maior problema
que enfrentamos é que as pessoas aparecem com
um saco de ração para doar, mas deixam em nossa
porta diversos cachorros. Muitos acham que a doação
dá direito ao abandono. E com a proximidade do
fim do ano a situação fica ainda pior", diz a protetora.
Clotilde cuida de seus animais em uma chácara com
cerca de 3 mil metros quadrados, comprada por ela
após a venda de uma confecção de cortinas com que
trabalhava. Além do cuidado dos animais abandonados
e doentes, a protetora também batalha pela castração
dos bichinhos.
"É um trabalho intenso, que não se resume ao cuidado
no dia a dia. Lutamos pela castração desses animais
e para que eles sejam também adotados. Todos os
sábados levo meus cães castrados para uma feira
de adoção, mas as famílias não costumam querer
pets adultos e a demora para a castração de filhotes
causa ainda mais problemas", conta.
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